Ser mãe importa?

 


Circula um vídeo na internet da presidente em exercício da OAB-DF em que critica uma peça publicitária de uma das duas mulheres que concorrem à presidência da OAB-DF.


O vídeo alvo da crítica traz crianças dizendo que querem ser advogados e que farão várias coisas – propostas da candidata - para a advocacia e termina om uma frase dizendo que ela será a primeira mãe à frente da OAB-DF e que o eleitor deve perguntar para sua mãe se isso é importante. 


A crítica da presidente em exercício diz que o fato de ser ou não mãe não torna alguém um bom gestor e que ser ou não mãe é uma escolha, as vezes de Deus. É bastante agressivo com a candidata.


É importante destacar que a presidente em exercício é vice-presidente eleita e não está concorrendo a um cargo na direção da OAB. Ou seja, o vídeo não ataca ninguém e a ela menos ainda. Ela está cumprindo um mandato de um mês, talvez dois, enquanto o presidente concorre às eleições – sim, sempre nós segurando a peteca para que os homens possam concorrer aos cargos de poder. 


A primeira coisa que eu pensei foi: que falta de sororidade. Equilibrar a vida pessoal, profissional e a maternidade é um super desafio. Como é um super desafio equilibrar a vida pessoal, profissional e acadêmica para qualquer mulher. Não há qualquer pessoa que não saiba que há grandes desafios em ser mulher. A gente precisa é de acolhida e suporte. Não agressão. 



E eu ouvi outras pessoas fazendo a mesma crítica, de que ser mãe não é um atributo distintivo. Como não é? É claro que é. 


Todas as pessoas são frutos de suas experiências e para desempenhar qualquer atividade de gestão é indispensável saber argumentar, ter responsabilidade, saber lidar com questionamentos, estar atento às necessidades de outras pessoas. E tudo isso se pode aprender em bancos de faculdades, em cursos de pós-graduação, mentorias, na gerência prática da escritórios ou na maternidade. 


Ser mãe é uma escolha, mas depois de feita ela é um elemento que modifica as pessoas. Como também modifica as pessoas fazer um curso, ter uma experiência acadêmica fora do país. Desconsiderar esse fator é punir mais uma vez as mulheres mães. As mulheres já ganham menos que os homens, precisam se ausentar do trabalho para cuidar dos filhos, ao menos no período legal, a atual divisão social não distribui as obrigações de cuidado com os filhos de maneira equânime entre pais e mães e ainda vamos punir as mães dizendo que todo o conhecimento obtido nesta experiência não é um acúmulo significativo? Para mim, é. 


Parece que não sou só eu que penso assim. Hoje, grande coincidência, a Folha de S.Paulo trouxe um artigo da Halitane Rocha, na coluna Mural, que aborda as mães da periferia no jornalismo. No texto ela mostra como a falta de mães na política interfere na construção de políticas públicas que olhem para, veja que coisa.... As mães e crianças! 


Vale a leitura: https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/16/a-presenca-das-maes-das-periferias-no-jornalismo/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=newscolunista


Juliana Oliveira, mãe da Sophia, jornalista e entrando no mundo do Direito


Foto de Marcin Jozwiak na Unsplash

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