Mulheres trazem mulheres

 


Nos dois últimos dias eu acompanhei Thais Riedel, advogada, minha ex-professora e com quem hoje trabalho, na jornada de lançamento e divulgação do movimento Paridade no Quinto Constitucional.


Advogadas de todo Brasil, representantes de 26 entidades, vieram a Brasília para reivindicar paridade de gênero na formação das listas sêxtuplas que são encaminhadas pela OAB aos Tribunais para a formação do Quinto Constitucional. 


Os dois dias foram bastante exemplificativos de como a conquista de direitos é feita de “suor, de sangue”, como nos ensina a juíza federal Raquel Domingues do Amaral. 


Mais de 60 mulheres deixaram suas vidas quotidianas, trabalhos, realizaram audiências entre uma reunião e outra no meio de corredores, para defender a inclusão de mulheres na magistratura brasileira. Ficamos no sol por horas, depois amontoadas e famintas no saguão da OAB, esperando para sermos atendidas por representantes da casa delas. 


A OAB é a casa das advogadas e dos advogados e a dificuldade em ser atendida mostra que para muitas mulheres, como na vida quotidiana, a primeira batalha que precisamos vencer para exercermos nossos direitos é em casa. 


Em cada uma das reuniões eu ouvi relatos absolutamente emocionantes. Houve momentos em que chorei. (tá bom que eu choro com propaganda da gelol...) Ouvi histórias de advogadas que têm de defesa de direito das mulheres o que eu tenho de vida. 


Advogadas com deficiência reiterarem que não haverá nenhuma discussão sobre elas sem elas. Advogadas negras que comprovam o que Angela Davis nos disse e que moveram a estrutura da sociedade ao se moverem. E vi mulheres, como Thais, cercadas de privilégios, que poderiam tocar suas vidas no conforto dos seus escritórios bem montados e estruturados, optarem por enfrentar sol, horas de trabalho coletivo e entrega para que nenhuma de nós fiquemos para trás. 


Aprendi que não haverá democracia verdadeira sem que haja a participação igualitária de mulheres e homens nos espaços de decisão. E que as vezes a própria língua não está preparada para nossos direitos. A ministra Maria Cláudia Bucchiarine, do TSE, me ensinou que até 1932 não existia a palavra cidadã. Não havia a palavra eleitora. E que eu escuto muito pouco a palavra deputada. Senadora. Governadora. E menos ainda desembargadora. Ministra. Com Eclair Nantes, criadora do movimento Paridade de Verdade e do agora Paridade no Quinto Constitucional, aprendi que eu naturalizei que a Ordem é dos Advogados do Brasil e não me parece estranho que nãos seja Ordem da Advocacia Brasileira. 


E foi com a minha orientadora, a secretária-geral do TSE Christine Peter, que aprendi, além de quase tudo o que eu sei sobre ativismo judicial, uma lição que Ruth Gingsburg, primeira mulher a ocupar a Suprema Corte Norte Americana, nos deixou. Em uma entrevista, a ministra foi questionada sobre quantas mulheres eram o suficiente para que as mulheres parassem de brigar por mais mulheres na Suprema Corte, ao que ela respondeu nove. O jornalista então disse: mas são todas. E ela retrucou: pois é, até bem pouco tempo esse era o número de homens que ocupavam essas cadeiras e ninguém achava nada de anormal. Então, quando nós mulheres ocuparmos as nove cadeiras e isso não for anormal, nós teremos mulheres o suficiente na Suprema Corte. 


Obrigada a essas 60 mulheres que participaram desse movimento. Obrigada a Thais Riedel por me incluir nesse movimento e obrigada a Regina Trindade, que sabe que a vida é árvore, cresce e alcança alturas, mas que a gente sempre honra as raízes. 


#ParidadenoQuintoConstitucional #Paridadedeverdade #VocênaOrdem #Thaisevocenaordem


Juliana Oliveira, jornalista entrando, deliciosamente, no mundo do Direito.

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