A indispensável rede de apoio e a criação dos filhos

 








Sophia foi para São Paulo com a namorada. Ontem à noite a Sophia pediu o telefone da Ana. Eu passei. Avisei a Ana que tinha dado o tel dela para a Sô, para o caso de ela precisar. 


Ana está fora da capital que nunca dorme, enlouquecendo para devolver a sanidade para o país. 


Dormi. 


Às 7h, a Sô avisa que chegou. As 8h eu pergunto se já estão no airbnb que alugaram. E ela me responde: 


- Não, estamos no ap da Ana, vamos ficar aqui até às 14h quando a gente pode entrar no airbnb. 


Eu e Ana Luiza somos amigas há tantos anos que eu prefiro não contar. Mas eu preciso contar o quanto sou grata a ela e como esse episódio me fez lembrar que é preciso uma rede de apoio e amor para criar os filhos.


Sabe aquele provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança? Pois é. Ela é verdade. 


A Sophia, nos primeiros anos de vida, foi criada pelos meus pais. Eu estava lá, mas eu trabalhava das 4h as 8h em um emprego, de 9h as 18h em outro e fazia faculdade à noite. Eles foram esteio, amparo e força. Foram pais da Sophia enquanto terminavam de me criar (eu tinha 18 anos), me ensinando a assumir responsabilidades e seguir adiante mesmo na adversidade. 


Me lembro que mesmo lá já havia uma semente do que foi a impressionante rede de apoio que eu criei. Havia uma vizinha com quem compartilhávamos o transporte das crias. Ela mãe de cinco, a gente com Sô. Um levava a outra família buscava. 


Me casei e ampliei a rede de apoio. Hamilton, o mais próximo, o Beto, meu irmão e fomos construindo uma forma de criar ampla, com partilha de responsabilidades e, principalmente, partilha de amor e cuidado. 


Me lembro de ter “momentaneamente” esquecido o aniversário da Sophia durante a semana depois de ter feito uma festa imensa para ela no final de semana e em menos de 2 horas eu arrumei uma festa com um monte de amigos meus e foi tanto amor envolvido que de lá saiu o casal Deyse e Jailson, que seguem juntos até hoje... 


Durante esse período a Sophia ainda era pequena e o ambiente era mais ou menos controlado. Mas com o crescimento dela levou ao crescimento das demandas e da rede. 


O Alexandre Rangel sempre levou a Sophia ao cinema para ver os filmes que eu tenho zero paciência (mas que hoje eu faço o esforço para que os filhos do Beto criem o hábito de ir ao cinema). 


A Patrícia Cunegundes transportava a Sophia para a escola pela manhã e sempre foi abrigo quando ela tinha fome e eu não estava na agência. Adriana Mendes também. E a Francine também, quando a Sophia já fazia inglês e não tinha nem transporte nem comida para comer. 


A Leila e o Alfredo foram hospedagem para a Sophia quando eu precisei viajar e o Cairê é uma lembrança feliz para a nossa família – inteira, diga-se de passagem – desde então. 


E eu jamais vou me esquecer que a Ana Luiza foi zelo para a Sophia (talvez mais para mim que para a Sophia, é verdade) quando, em 2013, ela resolveu ir para as manifestações que varreram o Brasil e também chegaram à Brasília. Eu fiquei muito mais tranquila com a Ana monitorando, ainda que de longe, a temperatura do evento e a segurança da Sophia. Mas não posso esquecer que só autorizei a ida da jovem rebelde depois que o Jean, que estava no governo do DF, me disse que a orientação do governo era de ser tolerante com os manifestantes. 


A Sophia é uma jovem educada, responsável, socialmente consciente, humanamente engajada e, ao que tudo indica, feliz. E isso é resultado da colaboração de todas essas pessoas e de muitas outras que compreenderam que a maternidade não pode ser algo aprisionador. Que a criação de novos humanos depende da ação coletiva de humanos se quisermos ter humanos conscientes, solidários, que entendam o que é Justiça. Não pode ser responsabilidade de pais e muito menos de só mãe. 


Obrigada, Ana Luiza. Amo-te imensamente!

Comentários

Postagens mais visitadas